"A última carta de amor" de Jojo Moyes






"Quando você me olhava com aqueles seus olhos ilimitados, deliquescentes, eu me perguntava o que você podia ver em mim. Agora sei que isso é uma visão tola do amor. Você e eu não podíamos deixar de nos amar, assim como a Terra não pode parar de girar em torno do Sol."
(p.128)

Antes de iniciar esta resenha, tenho que confessar algo muito importante: sou uma romântica incurável. E, definitivamente, Jojo Moyes me comoveu ao me apresentar uma história de amor tão bela.

"Nunca vou deixar de amar você. Nunca amei ninguém antes
e nunca haverá ninguém depois de você."
(p.175)

Em "A última carta de amor" (Editora Intrínseca, 384 páginas), somos apresentados a duas histórias paralelas que ao fim irão se entrelaçar.

Em 2003, conhecemos Ellie Haworth, uma jornalista que recebe ordens de sua editora para uma tarefa nada agradável. Como a sede do jornal Nation está sendo transferida para outro local e com esta mudança, diversas matérias antigas tem sido desenterradas, Ellie ficou responsável por procurar nos arquivos, páginas femininas de 40 ou 50 anos atrás para fazer uma matéria demonstrando o contraste do comportamento feminino daquela época para os dias atuais. Em meio a estes arquivos antigos, Ellie encontra uma carta de amor datada de 1960 de um homem apaixonado que assina como B. para uma mulher casada.  Como Ellie se relaciona com um homem casado há quase um ano - enfrentando críticas de seus amigos e problemas neste relacionamento que parece tão superficial quando ela deseja por algo mais intenso -, aquela carta encontrada desperta o interesse da jornalista que decide se aprofundar naquela história e descobrir quem eram aqueles amantes e como a história deles termina.

Na década de 60, Jennifer Stirling acorda em um hospital após um acidente de carro com amnésia. Ela não se lembra de que é casada com Laurence Stirling - um empresário riquíssimo e influente, mas também muito frio e distante, e sempre muito ocupado com seu trabalho. E, desde que retornou para casa, Jenny tem se esforçado muito para se adequar a rotina, ser uma boa esposa e voltar a ser a "Jenny de sempre" para o marido e amigos, quando, na verdade, ela nem se recorda quem fora esta Jenny. E, mesmo se esforçando tanto, ela não consegue se livrar da sensação de que algo importante está faltando em sua vida; algo que não consegue se lembrar. E não há ninguém com quem possa conversar sobre isto. Ela e Larry quase não se falam, e sua mãe se recusa a lhe contar detalhes do acidente.

Um dia, Jennifer encontra, dentro de um livro que estava guardado em seu guarda-roupas, uma carta. Uma carta de amor endereçada a ela e assinada por um misterioso B. Ela não se lembra, mas pode sentir através daquelas cartas apaixonadas e pelos sentimentos que elas despertam nela que era este o vazio que vinha sentindo. Ela estava apaixonada por outro homem antes do acidente, e agora ela precisa descobrir quem ele é e onde ele está.

"Peço-lhe que não me julgue pela minha fraqueza. A única forma de eu poder suportar isso é estar em um lugar que não a veja nunca, em que eu não seja assombrado pela possiblidade de vê-la com ele. Preciso estar em um lugar onde a pura necessidade impeça que você ocupe cada minuto,
cada hora dos meus pensamentos. Aqui isso é impossível."
(p. 172)

Este é o primeiro romance que tenho o prazer de ler da autora inglesa, Jojo Moyes. Fiquei surpreendida com a qualidade narração, o cuidado da autora em alternar passado e presente na história de forma que me prendeu à trama e me surpreendeu diversas vezes com rumo dos acontecimentos. A autora não só narra de forma bela, mas também estrutura muito bem o enredo, e torna seus personagens tão reais. O tema que Moyes escolheu tende a ser um tanto polêmico. Muitas pessoas são inflexíveis quando o assunto é traição. Mas adentrando na intimidade dos personagens, se não aceitamos totalmente, pelo menos, compreendemos os motivos que os levam à infidelidade.

Jennifer, que parece ter pouca ou nenhuma opção devido a época em que vive, é corajosa o suficiente para tomar decisões que poucas mulheres de seu tempo tomariam, mas os empecilhos são maiores contra os que ela é capaz de lutar. Já Ellie, por mais que não admita, está em um relacionamento complicado e não tem coragem de mudar; ela realmente acredita que por estar apaixonada não tem outra opção além de se submeter a situação que seu relacionamento se encontra. Ela demora a compreender que não é vítima circunstância e, sim, da escolha que fez.

De fato, esta é uma história de amor tão cheia de desencontros que não pude me livrar da agonia que senti pelo destino de cada personagem. Poderia o destino ser tão cruel com pessoas que se amavam tanto? Temos tão pouco controle sobre nossas vidas quando não só as nossas próprias decisões, mas também as de outras pessoas nos afetam? Existiria o tempo certo para a coisa certa acontecer?

Fiquei emocionada, com o coração apertado, apreensiva, me irritei com as conspirações do destino, chorei e alguns momentos até me diverti com alguns diálogos engraçados. Enfim, foram páginas que despertaram uma montanha-russa de emoções. Desfrutei cada sentimento dos personagens, vicariamente*.

E, para os românticos incorrigíveis como eu, recomendo a leitura deste livro. Pois é uma daquelas histórias de amor inesquecíveis. Daquele tipo de amor que o tempo não modifica, não abranda ou extingue. Daquele tipo de amor que muitos desejam viver.

"E, se sentir que foi a decisão acertada, saiba ao menos isso: em algum lugar deste mundo há um homem que a ama, que entende quão preciosa e inteligente e boa você é. Um homem que sempre a amou e que, por mais que tente evitar, desconfia que sempre a amará."
(p. 262)

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